sábado, 25 de julho de 2009

MOBY DICK E CHOWDER




A estreia, no Rio de Janeiro, da peça "Moby Dick", concebida e dirigida por Aderbal Freire-Filho, e a escolha do livro como um dos 100 livros essenciais da Revista Bravo, coincidiram com um presente que uma amiga me trouxe de Nova York. O livro "Literary Feasts- inspired eating from classic fiction", de Sean Brand, um confeito elaborado pela Atria Books.
Nunca li "Moby Dick",confesso. Sei, no entanto, que a frase inicial do livro "Call me Ishmael" é considerada por vários escritores americanos, entre eles Doctorow, como a frase responsável por seu ingresso nas lides literárias. Sei também que a leitura do livro costuma derrubar incautos e que, a insistência em trazê-lo para um clube de leitura,nos EUA,por parte de um de seus membros, provocou a derrocada do clube, tantas foram as "baixas" nas fileiras leitoras. Minha relutância à leitura, no entanto, deve-se a outro tipo de dificuldade. Leitora, na tenra juventude, de "Robison Crusoé" e "A ilha do tesouro", e embora tenha relido ambos, mais tarde, e gostado muito deles, até, apagando a lembrança juvenil e ingrata, tenho sérias dificuldades com romances náuticos e, por assim dizer, másculos. Não fui uma fã de "20 mil léguas submarinas". Não posso dizer que apreciei todas as qualidade de "Lord Jim", embora tenha degustado outros Joseph Conrad com prazer. Enjoei feiamente lendo "O velho e o mar", de Hemingway. Em suma, o máximo de mar e velames que pareço tolerar é um iate como o de "O sol por testemunha", de Patricia Highsmith, por exemplo. E a explosão de água salgada e sensualidade nos saveiros de Jorge Amado em "Mar morto".
Dito tudo isso, fiquei animada com a peça de Aderbal, e mais ainda com o livro de Sean Brand. Nele, aprendo que a receita que os personagens de Melville apreciam é uma "amazing chowder", uma incrível espécie de caldo grosso que, no Try Pots Hotel, onde o personagem Ishmael descobre, nas inconfidências de Queeqeg, a verdadeira história do capitão Ahab e de Moby Dick, a baleia que lhe engoliu uma perna, é servida em opções de marisco e bacalhau. Uma refeição suculenta, garante Ishmael, com pedacinhos de bacon, e temperada com pimenta e sal a gosto. Preparada pela sra.Hussy, que usa um colar de vértebras de bacalhau e anota a contabilidade de seu estabelecimento em livros encadernados em pele de tubarão, ela enche olhos e paladar dos personagens e os prepara para a expedição que virá.Abaixo,uma receita de "chowder" legítima,fornecida por um lobo do mar gourmet, não sei se também de Nantucket, como a original.

CHOWDER DE PEIXE

Ingredientes:
2 cebolas
3 cenouras
3 batatas de tamanho médio
3 talos de aipo com folhas
250 g de bacon
750 g mexilhões
1 a 2 kg peixe fresco, bacalhau ou hadoque
3 colheres de sopa de farinha de trigo
Sálvia fresca
Sal e pimenta a gosto
Creme de leite

Corte bem fino as cebolas, 2 cenouras, 1 batata, 2 talos de aipo. Corte o restante dos vegetais em pedaços maiores, para acrescentá-los mais tarde.
Numa panela grande, refogue o bacon, adicione os vegetais cortados e mexa-os até que fiquem cozidos. Coloque a farinha e mexa por mais alguns minutos. Adicione sal e pimenta. Se não quiser usar bacon, substitua-o por manteiga.
Ponha água na panela de maneira a cobrir os vegetais.Deixe os vegetais fervendo por 1 ou 2 horas, de modo a preparar o caldo que será utilizado no “chowder”.
1 hora e meia antes de servir, adicione os vegetais cortados mais grossos e os mexilhões. Deixe cozinhar por aproximadamente 1 hora e 20 minutos.Corrija os temperos e acrescente a sálvia. Quando as batatas e as cenouras estiverem macias, acrescente o peixe.Deixe o peixe cozinhar um pouco antes do ponto de fervura, até que amacie, uns 10 minutos. Não o faça cozinhar demais.Se quiser encorpar o prato, acrescente o creme de leite.